Homens, negros e adolescentes de 12 a 17 anos são os que mais desapareceram no estado no período de 2019 e 2021. Casos de desaparecimento são investigados pela Polícia Civil.
Policia Civil/ Divulgação/Arquivo
Mais de 400 pessoas desapareceram em Roraima entre os anos de 2019 e 2021, de acordo com o Mapa do Desaparecidos, um levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No mesmo período, 224 pessoas foram encontradas.
Nestes três anos, com 75,1%, o estado teve a maior variação entre todas as 27 unidades federativas. O estudo foi realizado a partir de dados coletados em Secretarias de Segurança Pública e publicado no último dia 21 de maio.
Em números absolutos, Roraima teve 474 registros de desaparecimentos durante os três anos analisados.
Em 2019, 132 pessoas desapareceram. Já em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, houve uma queda de 29,5% e o estado registrou 93 casos de desaparecimentos.
No ano seguinte, em 2021, os registros saltaram e foram 249 pessoas na mesma situação – uma variação de 167,7% em comparação com o ano anterior. Os dados do Mapa também reúnem desaparecimentos por perfil racial: foram 305 pessoas negras, 100 pessoas com perfil não informado, 50 brancos, 18 indígenas e uma pessoa amarela.
Das 224 pessoas localizadas em Roraima nesse mesmo período, 163 eram negras e 28 não tiveram o perfil informado. Dos brancos, 24 foram encontrados e entre os indígenas, nove foram localizados. No perfil racial amarelo não houve registro de localizações.
De acordo com o levantamento, adolescentes de 12 a 17 anos concentram o maior número de desaparecimentos no estado. No período analisado, essa faixa etária teve 151 registros.
O grupo é seguido de jovens entre 18 e 24 anos, com 72 registros, e de pessoas com idade entre 30 e 39 anos, com 67 ocorrências de desaparecimento (veja os dados completos no gráfico abaixo).
Segundo o levantamento, a maior parte da parcela de desaparecidos do estado é composta por homens. Eles representam 56,8% dos registros realizados entre 2019 e 2021 — 260 casos.
Já as mulheres fazem parte dos 198 registros de desaparecimentos. Os outros 16 registros não informam o gênero da pessoa desaparecida.
No cenário nacional, os homens também marcam o número de desaparecimentos. Nos três anos, o Brasil confirmou a ausência de 125.040 homens e 74.213 mulheres — uma taxa de 62,8% e 37,2%.
Embora o percentual de homens desaparecidos seja superior ao de mulheres, o tempo médio de notificação para o desaparecimento de cada gênero é diferente. O tempo médio para que o desaparecimento de uma mulher seja notificado é de 6 dias; o de homens, 8 dias.
Segundo o estudo, isso sugere uma sobreposição de gênero e a “comunicação de desaparecimento das mulheres é mais rápida do que a de homens porque mulheres não chegam tarde do expediente, passam o final de semana fora de casa e não ficam sem dar notícias”.
“Se naturaliza que homens, pelo contrário, são socializados de forma mais livre e despreocupada, ou seja, se um jovem passa a noite fora e não comunica onde e com quem está, isso não representa um perigo; se a mulher não cumpre com a rotina habitual, isso representa um estranhamento, algo que não está certo e pode ser indicativo de risco”, explica o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O desaparecimento é considerado multicausal e pode ser:
Voluntário – quando a pessoa se afasta por vontade própria e sem avisar, o que pode acontecer por diversos motivos: desentendimento, medo, aflição, choque de visões, planos de vida diferentes.
Involuntário – quando a pessoa é afastada do cotidiano por um evento sobre o qual não tem controle, como um acidente, um problema de saúde, um desastre natural.
Forçado – quando outras pessoas provocam o afastamento, sem a concordância da pessoa. Como um sequestro ou a ação do próprio estado.
Desaparecimentos no Brasil
No Brasil, mais de 200 mil pessoas desapareceram entre 2019 e 2021 – 112 mil pessoas foram encontradas neste período. Em média, são 183 desaparecidos por dia.
Em números absolutos, São Paulo ocupou o topo do ranking nacional, com 61.745 registros de desaparecimentos, seguido por Rio Grande do Sul, com 21.825, e o Rio de Janeiro, com 11.913. Na comparação nacional, Roraima foi o estado com o menor número de desaparecimentos.
Os adolescentes de 12 a 17 anos também são os que mais desaparecem no país (29,3%); 10% são jovens de 25 a 29 anos; 6,6% são pessoas com mais 60 anos; e as crianças representam 3,1%.
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O país ainda não tem um banco de dados unificado com todas as pessoas que desaparecem. Em 2019, o governo sancionou a Lei da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas. Essa lei previa a criação de um cadastro nacional que até hoje não existe. Segundo o Ministério da Justiça, a previsão é que esse sistema unificado seja criado este ano.
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