Angelita Prororita Yanomami tinha 35 anos. Morte dela foi confirmada após exame de arcada dentária em uma ossada humana encontrada no dia 1º de maio em Boa Vista. Delegacia Geral de Homicídios investiga. A morte da tradutora e interprete da língua Yanomami Angelita Prororita Yanomami, de 35 anos, ex-nora do líder indígena Davi Kopenawa, infirmada nessa quarta-feira (30), ainda está cercada de mistérios. Era de Angelita, que havia sido casada com Dário Kopenawa, a ossada humana encontrada próximo ao Rio Branco, na zona Oeste de Boa Vista.
Ossada humana encontrada é de indígena ex-nora do líder Yanomami Davi Kopenawa
Angelita trabalhava como tradutora e interprete na Casa de Saúde Yanomami, em Boa Vista, onde ficam internados indígenas removidos das comunidades no território. A unidade é vinculada ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek’uana (Dsei-YY), órgão do Ministério da Saúde. Ela deixou uma filha de 11 anos, do casamento com Dário.
Nesta reportagem você confere perguntas e respostas como e quando ela morreu, se estava desaparecida, quando foi a última vez que foi ao trabalho, quem investiga, e o que dizem as organizações indígenas. Veja:
Como e quando ela morreu?
Ainda não se tem informação sobre a causa e quando Angelita morreu.
O que se sabe é que era dela a ossada humana encontrada no dia 1º de maio na região conhecida como “Banho Copaíba”, Distrito Industrial, zona Oeste de Boa Vista.
Os restos mortais foram encontrados pela Polícia Militar, após ligação para o 190. Junto com a ossada, havia roupas femininas e acessórios.
A identificação de que era Angelita ocorreu no dia 30 de maio, um mês depois que os restos mortais foram encontrados. A confirmação da identidade ocorreu no Instituto Médico Legal (IML) por meio de exame da arcada dentária.
Roupas femininas encontradas junto com os restos mortais de Angelita Prororita Yanomami, de 35 anos
Reprodução/PMRR/Divulgação
Angelita estava desaparecida?
Sim, mas o registro oficial do desaparecimento dela na delegacia só foi feito dia 31 de maio, 53 dias após ela não ser mais vista – e um dia depois que foi oficialmente identificada pelo IML. Uma amiga foi quem registrou boletim de ocorrência, acompanhada de um amigo.
Os dois disseram à Polícia Civil que na noite do dia 8 de abril, um sábado, por volta de 20h40, viram Angelita na garupa da moto de um homem – desse dia até o dia que a ossada foi encontrada passaram-se 23 dias.
Na ocasião, o amigo fez uma foto dela na moto – ainda não está clara a intenção dele com esse registro. Depois, ainda segundo o amigo, ele acompanhou um pouco os dois e viu que seguiram rumo ao shopping, mesma região da faculdade onde ela cursava odontologia, no bairro Caçari.
Já a amiga disse, no boletim de ocorrência, que Angelita tinha sido vista nas proximidades da faculdade andando com um homem em uma moto, também no dia 8 de abril. A placa da moto foi informada na delegacia.
Procurada sobre a última vez que Angelita foi à faculdade, a instituição privada onde ela estudava informou que ela havia trancado o curso de odontologia no início deste ano, por isso, não estava frequentando as aulas.
Ativa nas redes sociais, a última postagem no perfil dela do Facebook é do dia 12 de abril, uma quarta-feira, quatro dias depois de ter sido vista na garupa da moto. No post, ela mostrava o novo visual em um vídeo.
A Polícia Civil afirma que o boletim de ocorrência feito no dia 31 de maio é o único até agora que relata o desaparecimento de Angelita. O registro foi feito no Núcleo de Investigação de Pessoa Desaparecida.
Do dia 8 de abril, quando os amigos disseram ter visto ela na rua, até o dia em que ela foi identificada no IML foram 52 dias.
O g1 apurou que Angelita tinha saído da casa onde morava com Dário havia cerca de dois meses – nesse período, ela estava na casa de uma amiga – não se sabe foi essa a amiga que registrou o BO pelo desaparecimento.
Qual foi a última vez que Angelita foi ao trabalho?
Como Angelita trabalhava na Casai, o g1 questionou do Ministério da Saúde quando foi a última vez que ela compareceu ao trabalho e alguém na unidade havia notado a falta dela. No entanto, o órgão não enviou essa informação.
O Ministério disse apenas que “vai colaborar com as investigações conduzidas pelas autoridades competentes para que as causas da morte sejam esclarecidas o mais rápido possível.”
O que dizem as organizações indígenas?
Após a divulgação da morte da ex-mulher do líder indígena Dário Kopenawa, organizações indígenas lamentaram, prestaram solidariedade à família e cobraram investigação.
A Hutukara Associação Yanomami, liderada pelo ex-marido e ex-sogro, divulgou nota afirmando que “exige que o caso seja investigado e pede justiça.”
A Urihi Associação Yanomami disse que a partida de Angelita “deixa um legado de carinho, respeito, e amizades.” “Que as autoridades investiguem e os responsáveis sejam encontrados e punidos por tamanha barbárie.”, disse a organização.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) disse que vai pedir “uma investigação da Polícia Federal, e acompanhamento do MPF, da Funai e Ministério dos Direitos Humanos para uma rápida apuração do caso. Que os mandantes desse crime bárbaro contra uma mulher, sejam responsabilizados e punidos.”
O Ministério da Saúde também lamentou a morte e disse que Angelita era “sempre muito atuante na luta em defesa dos direitos, por justiça e dignidade das mulheres Yanomami.”
Morte da ex-nora do líder Yanomami Davi Kopenawa: o que se sabe e o que falta saber
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