Ao menos 20 lagartixas estão espalhadas em muros pela capital. Coloridas, elas chamam atenção de quem anda pelas ruas a pé ou de carro. Ao todo, são ao menos 20 lagartixas grafitadas em muros de Boa Vista
Rayane Lima/g1 RR
Andando a pé ou de carro, quem passa por Boa Vista pode ser que encontre a imagem de uma lagartixa grafitada em muros da capital. O desenho, espalhados por cerca de 20 pontos da cidade, é do artista e tatuador Ítalo de Déa, de 30 anos. A intenção dele com a arte é criar uma conectividade entre a cidade e quem vê os grafites.
Os calanguinhos, como também são chamadas as lagartixas, começaram a ser grafitadas por Ítalo em 2021. Ele disse que tudo começou com a uma brincadeira em que a intenção era proporcionar um momento lúdico e afetivo com a cidade.
“Eu queria um relacionamento mais afetivo, mais lúdico, que é importante para as pessoas no dia a dia. A pessoa mapeando, sabendo onde é que tem cada um, vai notando a cidade de uma maneira diferente, em vez do que só passar ali. É uma maneira de trazer a pessoa ali para aquele momento” explicou o artista.
Artista espalha grafites de lagartixas por Boa Vista
E Ítalo não escolheu a lagartixa de forma aleatória. O artista contou ao g1 que, em geral, as pessoas tendem a ter medo do réptil. Mas, na visão, dele, esse sentimento poderia ser mudado – e assim, decidiu espalhar várias delas nos muros da cidade.
“Eu ficava ‘o que eu vou fazer se fosse fazer algo rápido?’. Gosto muito do shape do calango, os calangos vivem na parede, mas eles mal se camuflam. E a gente tem um certo arrepio com os reptilianos. E aí eu falei ‘vou fazer uns calanguinhos aqui para a galera ter uma outra afetividade com calango de verdade que eles verem na rua, talvez achem até eles mais bonitinhos por causa dos calangos que eu tenho desenhado'”, contou Ítalo sobre a ideia.
Espalhados por vários cantos da capital, os calanguinhos feitos pelo artista são coloridos e levam em média cinco minutos para ficarem prontos – o tempo da arte final depende do tamanho e dos detalhes. O artista utiliza tinta spray usada em grafites, por ser mais prática.
A ideia surgiu com o intuito de criar uma relação com a cidade e quem encontra o calango.
Rayane Lima/g1 RR
Para construir o desenho, o artista utiliza algumas técnicas do grafite, mas o muralismo é o mais presente.
“Não é uma técnica muito parecida com o grafite que a galera faz. Por exemplo, o contorno sempre mais robusto, aquele fechamento que parece um adesivo […] O calanguinho não tem essa parada. É um pouco mais para o muralismo mesmo, mais artístico”, explicou.
E as imagens reproduzidas nos muros da cidade são desenhos autorais de Ítalo. Por admirar a cultura indígena, ele também inclui nas produções os grafismos que lembram os dos povos originários.
“Uso bastante nas minhas obras porque admiro muito na cultura dos indígenas. Nas linhas, nos pontos, nos desenhos orgânicos e intuitivos. Eles veem uma uma mágica nisso, eles têm essa perspectiva de ver o lado energético, espiritual e cósmico. E acho que daí que veio o estilo do calanguinho ter um pouco desse tribal em cima dele, tem essas cores vibrantes”, pontuou.
ítalo usa um pouco do grafite e do muralismo para criar os calanguinhos.
Ítalo De Déa/Arquivo Pessoal
A escolha dos espaços
Ítalo contou ao g1 que escolhe de maneira aleatória os lugares onde grafita os pequenos lagartos. No centro de Boa Vista, há ao menos cinco deles.
“Acho legal pintar no centro porque foi onde tudo começou, onde tem muita história, onde acontece muita vida, onde a vida civil aparece, tem todos os tipos de pessoas e tipos de vida”, destacou.
A técnica usada no desenho é o grafite e o muralismo.
Rayane Lima/g1 RR
‘Relação com a arte começou muito cedo’
Ítalo Duarte de Déa é tatuador e artista. Ele conta que a relação com a arte começou muito cedo. Filho de professora de arte, música e filosofia, cresceu rodeado de artistas e exposições, o que o influencia até hoje.
Formado em Design pela Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI), em Manaus, ele também é mestre de belas artes em gravura, desenho e pintura pela Universidade de Towson, em Maryland, nos Estados Unidos.
“Sempre me desenvolvi muito com o desenho. Escrevia bastante quando era menino, gostava de escrever poesia, gostava de desenhar, de dançar, era bem artístico. Então, assim que se criou essa relação com a arte na minha vida, bem profunda e enraizada”, resumiu.
Cerca de 20 calanguinhos estão espalhados pela cidade.
Rayane Lima/g1 RR
*Estagiária sob supervisão de Valéria Oliveira
Artista espalha grafites de lagartixas por Boa Vista para que pessoas tenham ‘relacionamento mais afetivo com a cidade’
Adicionar aos favoritos o Link permanente.