Servidora pública Nayra Barbosa, de 35 anos, recebeu a intimação de despejo do Tribunal Regional Federal em julho. Com a morte do pai dela, os 60 dias dados pela justiça são para que haja tempo de intimar a mãe. De acordo com Nayra, o documento foi recebido por ela em julho. A escritura da casa é datada de fevereiro de 1994.
Caíque Rodrigues/g1 RR
A Justiça Federal suspendeu, nesta terça-feira (22), por 60 dias o processo que ordena o despejo da família da servidora pública Nayra Barbosa, de 35 anos de uma casa no bairro Paraviana, zona Leste de Boa Vista. Ela recebeu uma decisão para que a casa em que vivem há 33 anos fosse desocupada até esta quarta-feira (23) por pertencer à Força Aérea Brasileira (FAB).
O documento foi assinado pelo juiz da 2ª Vara Federal Cível do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, Felipe Bouzada Flores Viana — o mesmo que assinou a decisão que ordena o despejo. O g1 procurou o Tribunal Regional Federal e questionou se havia o interesse em se posicionar, mas não recebeu resposta até o momento da publicação.
No documento, o juiz levou em consideração que a casa que pertence à família de Nayra está registrada no nome do pai e da mãe da servidora pública desde 1994. Com a morte do pai, os 60 dias dados pela justiça são para que haja tempo de intimar a mãe — que não mora no Brasil — e para que ela “comprove a abertura do inventário e o compromisso do inventariante”.
Nayra mora na casa junto com a irmã e a filha adolescente. Agora, com a suspensão temporária da ação, ela pretende iniciar o processo do inventário e procurar ajuda com parlamentares para que o processo seja revisto.
“O juiz solicitou que iniciássemos o processo e pelo menos fizéssemos a abertura do inventário dentro de dois meses. Durante esse período, iremos buscar maneiras de obter o auxílio dos parlamentares em Brasília. Comprometemo-nos a comunicar à Justiça que não têm mais interesse nessa área, fortalecendo a base”.
“Esperamos não nos preocupar mais com a desapropriação. Caso surja a necessidade de sair, isso também se aplicará aos meus vizinhos e outros residentes do bairro”, disse a servidora ao g1.
Ordem de despejo
De acordo com ela, o documento que a avisou sobre a ordem de despejo foi entregue em julho deste ano. Ela disse que uma “pessoa da Justiça” foi pessoalmente avaliar a casa. Ela já tirou todos os seus móveis do local.
A Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a enviar um documento no dia 6 de junho para o deputado federal Albuquerque (Republicanos) em que diz que não tem interesse na área. A FAB disse que solicitaria que a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) realizasse o desmembramento do local que, por sua vez, informou ao g1 não ter recebido esta solicitação.
Em 2019, centenas de moradores de 40 quadras do Paraviana receberam a intimação da Justiça ordenando a saída de moradores da região, mas o processo foi encerrado e as intimações pararam de chegar. Mais de mil famílias vivem na área.
“É muito angustiante reviver tudo isso, pois não é a primeira vez. Buscamos ajuda das autoridades, dos políticos. Já entramos com uma petição solicitando uma revisão, mas o juiz ainda não a avaliou, e o processo não teve avanços. É uma situação assustadora que achávamos que não iríamos passar novamente”, disse a servidora pública.
A situação de Nayra também assustou os outros moradores do bairro. Em 2019, os vizinhos chegaram a organizar uma associação para tratar do assunto e agora, por meio dela, pedem que a decisão seja revista. O presidente da Associação dos Moradores do Paraviana, Mariano Melo, informou que a ideia é tentar resolver o problema “com quem tiver que ser”.
“Vamos tentar resolver com parlamentares. Caso essa abordagem não seja viável, estamos considerando a possibilidade de contratar um escritório de advocacia para ingressar com uma ação judicial. Temos total certeza que todos envolvidos agiram de boa-fé, tantos as imobiliárias que nos venderam essa área há mais de 30 anos quanto nós, compradores. Todos temos escrituras públicas”, disse o presidente.
Em 2019, ao g1 o advogado e morador da área, Esron Martins informou que a Justiça Federal apontou que houve um erro na hora de colocar a cerca que delimita o limite entre os terrenos da União e do território de Roraima, na década de 40.
À época, a Prefeitura de Boa Vista informou que o “processo judicial é movido pela União em face dos moradores. A Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (EMHUR ) jamais foi parte na relação processual”. Procurada novamente, a prefeitura reforçou o posicionamento de 2019 alegando que “não está inserida no polo ativo da ação”.
Terreno que União aponta ser da Aeronáutica abranje 40 quadras, onde mais de 1000 famílias moram
Divulgação
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
Justiça suspende por 60 dias ação que ordena despejo de família de casa no bairro Paraviana, em Boa Vista
Adicionar aos favoritos o Link permanente.