Vítimas recebem benefício INSS e afirmam que dono de empresa de crédito pegou dinheiro deles com promessa de devolver com juros, o que nunca ocorreu. Todos registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil. Vítimas recebiam o dinheiro do empréstimo e repassavam para o empresário; foto ilustrativa.
Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo
Ao menos três migrantes venezuelanos que vivem em Boa Vista acusam uma empresa, que se apresenta como uma loja de crédito, de ter aplicado um golpe financeiro. Com a promessa de aumentar a renda, as vítimas relataram ao g1 terem sido convencidas pelo empresário Rodrigo Araújo Costa a contratarem um empréstimo e investirem o valor na empresa dele, a Master Cred Promotora. Juntos, os migrantes somam um prejuízo de mais de R$ 16 mil.
As vítimas, um homem, de 66 anos, e duas mulheres, de 35 e 26 anos, registraram boletins de ocorrência na Polícia Civil pelo crime de estelionato. Mais de dez pessoas podem ter sido prejudicadas, conforme as vítimas.
Procurado, o empresário Rodrigo Costa disse que vai pagar o que deve às vítimas. “A gente teve um problema financeiro sim, mas a gente vai fazer esse pagamento para cada um deles. Todos vão receber esse dinheiro. Inclusive, coloquei até um imóvel meu à venda enquanto não cai esse pagamento para passar logo o dinheiro para eles e resolver logo essa situação”, afirmou ao g1.
O esquema funcionava da seguinte forma, segundo as vítimas:
O dono da empresa, Rodrigo, auxiliava as vítimas, que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a contratarem um empréstimo consignado;
Com o empréstimo aprovado, ele convencia as pessoas a investirem o dinheiro na Master Cred Promotora, com a promessa de que receberiam um valor maior, ou seja, com juros;
Após entregarem o dinheiro, a Master Cred Promotora teria um prazo de 7 a 15 dias para devolver os valores, o que não acontecia, relatam as vítimas.
O BPC é um benefício assistencial para pessoas com deficiência e idosos com 65 anos ou mais de baixa renda, situação que as vítimas se encaixam. O empréstimo consignado seria descontado diretamente no benefício recebido.
Migrante custearia tratamento do filho
Ao g1, o marido de uma das vítimas, José Javier Gómez, de 37 anos, contou que em setembro deste ano, o casal emprestou R$ 7,5 mil para a empresa e deveria receber R$ 10,5 mil, no prazo de uma semana. Mas, o valor nunca foi devolvido.
O casal usaria o valor do empréstimo para viajar para o Rio Grande do Sul, onde conseguiriam um tratamento especializado para o filho, um menino de 9 anos, que tem paralisia cerebral, e custear as despesas da criança no local.
“Nós fizemos o processo com ele porque precisamos do dinheiro para ir para outro estado e tentar conseguir uma saúde melhor para o meu filho, que tem incapacidade. E nós realmente fomos enganados por ele, não somente eu e minha mulher, mas muitas outras pessoas que passaram pela mesma coisa”, explicou José Javier.
Para que tivesse os direitos garantidos e recebesse o valor no prazo estimado, Javier pediu para que o empresário fizesse um contrato sobre o investimento. No entanto, segundo ele, o empresário informou dados errados no documento, colocando o número CPF no lugar do CNJP da empresa. O casal só percebeu o erro quando denunciou o caso à polícia.
O empresário Rodrigo, por sua vez, afirma que em nenhum momento as vítimas foram lesadas. Afirmou ainda ter prestado depoimento na delegacia.
“O delegado já está ciente também da situação, tá? Então, eu não estou me negando a pagar. Eu vou fazer esse pagamento para eles, em nenhum momento a gente fez esse acordo financeiro pretendendo dar golpe em ninguém”, afirmou. A Polícia Civil não se pronunciou sobre os boletins de ocorrência registrados.
“Ele [uma das vítimas] fala que foi lesado, que fez essa transferência. Pelo o que ele fala é como se a gente não fosse pagar eles, mas sempre deixei bem claro que, sim, teve a demora, mas eles vão receber. E não é daqui meses, a gente vai fazer esse pagamento o quanto antes. Como eu falei, até um imóvel eu coloquei a venda para responder essa situação o quanto antes. A gente tem sim a condição de pagar e vamos pagar esses clientes sim”, reforçou o empresário.
Mãe compraria cadeira de rodas para a filha
A situação da jovem, de 26 anos, é similar a do casal. Ela, que não quis se identificar na reportagem, explicou que também tem uma filha com deficiência física e intelectual e que a criança necessita de uma cadeira de rodas.
A jovem, segundo a denúncia, contratou um empréstimo de R$ 15 mil para comprar uma cadeira de rodas infantil e adaptada para a filha e pagar o tratamento da criança, e foi convencida a investir todo o valor na empresa.
Com o fim do prazo e a cobrança da jovem, a empresa devolveu R$ 10 mil. A vítima tentou contato para receber os outros 5 mil, mas não teve mais retorno.
‘Queremos Justiça’
No dia 2 de outubro, o idoso de 66 anos contratou um empréstimo de R$ 4 mil por meio da empresa e também foi convencido pelo dono a investir todo o valor. Até essa quarta-feira (8), ele só havia recebido R$ 300 do valor.
“Ele [o dono] sempre fala que vai dar o dinheiro de volta, que nós podemos ficar tranquilos, mas isso nunca acontece. Nós queremos justiça, esperamos que a polícia vá lá [na empresa] e obrigue ele a pagar, que ele devolva nosso dinheiro. Nós queremos o dinheiro de volta”, reforçou José Javier.
Nos boletins de ocorrência, os casos foram registrados como estelionato. O crime de estelionato ocorre quando alguém obtém vantagem ilícita para si ou para outra pessoa em prejuízo da vítima, introduzindo-a ou mantendo-a em erro, mediante qualquer meio fraudulento.
A reportagem tentou contato com a Polícia Civil para saber se os casos são investigados e aguarda o retorno.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
Migrantes acusam empresário de dar golpe com empréstimos e prejuízo ultrapassa R$ 16 mil em RR
Adicionar aos favoritos o Link permanente.