Suspeito de mandar matar a mãe da filha, ex-senador Telmário Mota foi preso em Goiás. Antônia Araújo foi assassinada com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro, quando saía de casa, na zona Oeste de Boa Vista, capital de Roraima. VÍDEO: Veja momento em que ex-senador Telmário Mota sai de delegacia em Goiás
O ex-senador Telmário Mota, preso por suspeita de mandar matar Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos, mãe de uma filha dele, não pagava pensão alimentícia à filha de 18 anos desde que perdeu as eleições de 2022, disse a advogada da jovem em depoimento dado à Polícia Civil.
A filha de Telmário o acusou de estupro em 2022, à época ela tinha 17 anos. A Rede Amazônica teve acesso exclusivo ao depoimento da advogada. Ela informou que o ex-senador havia ameaçado cortar a pensão após a jovem acusá-lo de estupro.
Em um dos momento, Telmário disse à Antônia que “se ele perdesse as eleições ela nunca mais iria ver a cor do seu dinheiro”.
Preso nessa segunda-feira (30) em Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiás, o ex-parlamentar negou as acusações e afirmou ser inocente. Além disso, a defesa dele caracterizou a prisão como desproporcional.
Telmário concorreu a reeleição ao cargo de senador em 2022, mas perdeu. Ele ocupou a cadeira no Senado de 2014 a 2022.
Antônia era uma das principais testemunhas sobre as investigações que envolviam a acusação de estupro, segundo a Justiça.
Na investigação, a Polícia Civil destacou que Antônia seria ouvida no dia 2 de outubro de 2023. Três dias antes, no dia 29 de setembro, ela foi assassinada com um tiro na cabeça na frente de casa, quando saia para trabalhar.
Senador Telmário Mota é alvo de operação que apura morte de Antonia Araújo de Sousa, mãe de uma filha dele
Reprodução/Senado Federal e arquivo pessoal
A advogada destaca ainda no depoimento que, desde o assassinato de Antônia, a jovem “está escondida por medo de ser morta também”. Além disso, o velório de Antônia foi fechado por medo de ameaças por parte do ex-senador. A filha reforçou todo o depoimento que prestou contra Telmário sobre a acusação de estupro.
Além da jovem, Antônia deixou outros dois filhos de pais diferentes. Em depoimento dado à Polícia Civil, o viúvo da vítima revelou que o filho mais velho se mudou para outro estado onde o seu pai mora, pois “estão com medo devido ao ocorrido com a mãe”.
Ela disse também no depoimento que a mãe chegou a dizer para a irmã que estava sendo perseguida. O delegado João Evangelista, da Polícia Civil, informou que a assessora de Telmário, Cleidiane Gomes da Costa, de 39 anos, monitorava e passava informações sobre a rotina da vítima a ele.
Ex-senador Telmário Mota e a assesora Cleidiane Gomes da Costa, investigada por monitorar a vítima Antônia Sousa antes do assassinato
Reprodução/Facebook
O g1 esteve na casa de Antônia, onde ela foi assassinada, mas o viúvo dela não quis conversar com a reportagem por medo de ameaças.
O delegado da Polícia Civil João Evangelista, que está a frente do caso, disse em coletiva de imprensa concedida que todos os depoentes relataram temer pelas próprias vidas após a morte de Antônia.
“[…] as pessoas que foram ouvidas todas foram muito categóricas em afirmar que de fato têm medo, elas são temerosas acerca de eventuais retaliações sobre o que elas possam vir a falar e isso torna de fato um pouco complicado a investigação. O próprio Gaeco nos auxilia em função da complexidade, se você tem um caso onde há uma investigação, onde a principal testemunha é morta em circunstâncias que indicam que foi executada as outras testemunhas ou outras vítimas vão ficar ansiosas”, disse o delegado.
Operação Caçada Real
A juíza Lana Leitão Martins, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, acatou o pedido e ordenou a prisão de Telmário Mota, do sobrinho dele, Harrison Nei Correa Mota, conhecido como “Ney Mentira”, investigado por responsável por organizar a execução do crime, e de Leandro Luz, que atirou em Antônia. A assessora do ex-senador, Cleidiane Gomes Costa, também é investigada e deve usar tornozeleira eletrônica.
O nome da operação “Caçada Real” faz referência ao nome da fazenda de Telmário, onde, de acordo com documentos obtidos pela Rede Amazônica sobre a investigação, ocorreu a reunião que decidiu sobre a morte de Antônia.
“Muitos elementos de informação indicando que houve um planejamento da execução, houve uma logística necessária, o nome da operação se reporta a um local onde houve não apenas o planejamento, não apenas reunião do grupo como também até um treinamento antes da execução. Então, ‘Caçada Real’ na verdade diz respeito a fazenda do ex-senador Telmário Mota”, disse o delegado do caso, João Evangelista em coletiva de imprensa.
Foi na propriedade, conforme a Polícia Civil, que Telmário deixou o sobrinho Ney Mentira como responsável pela execução do crime. A fazenda foi um dos locais alvos de busca na operação.
Na operação, Leandro Conceição, responsável por atirar na vítima foi preso. Cleidiane Gomes da Costa, assessora de Telmário também foi um dos alvos da operação. A juíza do caso ordenou que ela seja monitorada por tornozeleira eletrônica. Ela chegou a monitorar a vítima e a filha de Telmário dias antes do crime.
A operação da Polícia Civil ocorre com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Departamento de Inteligência Secretaria de Segurança Pública, Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar e da Divisão de Inteligência Policial da Polícia Civil do Distrito Federal.
Acusação de estupro
Em agosto de 2022, a filha de Telmário e Antônia Araújo — assassinada com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro — afirmou que ele a assediou, tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar a sua roupa no Dia dos Pais. Na época, ela tinha 17 anos.
Segundo a filha, ela fez contato com o senador para os dois passarem o Dia dos pais juntos. Ela disse que o pai ligou por volta das 19h dizendo que iria levá-la para um lago, para comemorarem a data.
A filha, em entrevista exclusiva ao g1, contou que o pai a forçou entrar em seu carro e a tomar bebidas alcoólicas. Também disse que o senador tomou seu celular durante os assédios para que ela não pedisse ajuda para ninguém.
“Por ele ser meu pai, por eu ter saído várias vezes com ele eu nunca imaginei [que isso aconteceria]. Desde pequena a gente mantinha contato, ele era distante, mas eu era a filha mais próxima dele. Ele nunca tinha dado sinal de um comportamento assim comigo, nunca. Nem para mim, nem para as outras filhas dele. Abalou todo o meu mundo”, disse.
Telmário negou as acusações e afirmou se tratar de perseguição politica.
O caso foi registrado na Polícia Civil como estupro de vulnerável. A juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, chegou a conceder uma medida protetiva em favor da filha.
Morte de Antônia
O corpo de Antonia Sousa foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML)
Caíque Rodrigues/g1 RR
Antônia Araújo de Sousa, mãe da jovem, foi morta com um tiro na cabeça quando saia de casa no dia 29 de setembro, no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste em Boa Vista.
Ela estava dentro de um carro com um parente na calçada de casa, por volta das 6h30, quando dois homens chegaram em uma motocicleta. Um deles a chamou e em seguida atirou em Antônia.
Antônia morreu ainda no local, na calçada de casa. No local do crime, a filha da vítima prestava esclarecimento aos agentes com as roupas cobertas de sangue. A vítima era servidora do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek’uana (Dsei-YY), desde 2017.
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