Mãe vai processar o Estado após filho preso receber alta do HGR e morrer na PAMC

Mãe de Allyson e os advogados Carolina Melo e Fabrício Dias (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Após a morte de Allyson Marques dos Santos, de 24 anos, na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC) no dia 27 de janeiro, a mãe dele denuncia que pode ter havido negligência médica no Hospital Geral de Roraima (HGR), onde ele ficou internado por nove dias em estado grave.

Allyson foi baleado por um policial militar em um posto de combustível, no bairro Pérola, no dia 12. O militar alegou que o rapaz iria cometer um assalto em companhia do irmão gêmeo A.M.S.

Em entrevista à FolhaBV, a mãe de Allyson, Rosângela Marques, de 49 anos, que pretende entrar com uma ação contra o Estado, contou que após ser baleado, o filho deu entrada no HGR em estado grave e ficou internado até o dia 21, e depois de receber alta médica, foi transferido para a unidade prisional, onde morreu após sete dias.

Ainda segundo Rosângela, presos que dividiram a cela com Allyson relataram à família, que ele estava sentindo dor e agonizando dentro da cela. Conforme o relato, os policiais penais não prestaram assistência necessária e chegavam até a ir na cela perguntar se Allyson ainda estava vivo.

“Meu filho deu entrada no HGR entre a vida e a morte, depois de nove dias ele foi transferido para a PAMC. Deram alta sem ele está recuperado. Os presos contaram, que ele estava mal na cela, sentindo dor e pedindo ajuda, mas os policiais penais negavam assistência. Eles (os policiais penais) batiam na cela perguntando se ele estava vivo, dizendo que ele estava todo ferrado por dentro e não iria escapar”, contou Rosângela.

No dia da morte de Allyson, às 13h37, a Unidade Básica de Saúde da PAMC mandou uma mensagem solicitando que os familiares dele fossem até a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) no horário das 8h às 12h do dia seguinte, pegar uma receita para comprar um medicamento para o preso. Porém, às 14h38 o jovem não resistiu e foi a óbito. A família soube da morte do homem através de uma reportagem da Folha.

No momento da autópsia, foi retirada uma bala que estava alojada no corpo de Allyson. A causa da morte dele foi anemia aguda hemorrágica causada por ação pérfuro-contudente.

Rosângela disse, ainda, que os filhos não iriam cometer o assalto e o simulacro de arma de fogo apreendido no dia 12 não pertencia aos filhos. Ela contou que está tentando provar a inocência de A.M.S., que tem medo de ser preso ou morto.

“A polícia já foi duas vezes na casa do pai dos meninos para prender o A.M.S., mas não tem Mandado de Prisão contra ele. Eles tinham ido ao posto de gasolina comprar um lanche para levar à casa da namorada do Allyson, quando aconteceu tudo isso”, relembrou.

A mulher pede justiça. “Meu filho morreu injustamente e o outro está sendo procurado por um crime que não cometeu. Como eles são gêmeos, está sendo muito difícil olhar para um e não ver o outro”, finalizou Rosângela.

DEFESA

Os advogados Carolina Melo e Fabrício Dias, que estão na defesa do caso.

“O que esse rapaz sofreu é inaceitável. Não existe pena de morte e tortura no Brasil, o sistema prisional hoje está um caos. O Allyson foi torturado e morto porque ele poderia ter tido o acompanhamento médico adequado e depois de recuperado, transferido à Pamc. Existe no Brasil, o princípio de que ninguém será considerado culpado até uma condenação com trânsito julgado, ou seja, já condenaram e puniram ele com a morte”, comentou a defesa.

OUTRO LADO

A reportagem procurou a Sejuc e Secretaria de Saúde (Sesau), que se manifestaram por meio de nota.

A Sejuc informou que informou que Allyson encontrava-se sob custódia desde a data de sua prisão ficando desde então internado no Hospital Geral de Roraima em razão de ter sido alvejado por policial militar no ato da ocorrência (assalto a um posto de gasolina).

O interno teve alta hospitalar no dia 21 de janeiro, ficando à disposição da Justiça na ala de triagem da PAMC. Na segunda-feira, 27, por volta das 14h, Allyson foi conduzido ao setor de saúde da unidade penal com queixa de dores agudas e foi imediatamente atendido pela equipe médica, que iniciou o protocolo de atendimento. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência foi acionado imediatamente, porém o interno não resistiu e veio a óbito às 14h38.

A Sejuc informa ainda que todas as providências foram adotadas para o acolhimento familiar por meio da assistência social.

Já a Sesau, informou que como o paciente era reeducando e custodiado, fornecerá informações sobre o prontuário por eventual manifestação judicial.

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