Caso as contas do Centro de Tradições Gaúchas Nova Querência (CTG) sejam bloqueadas devido ao processo que trata do desvio de R$ 240 mil em recursos públicos, durante a gestão de Irno Araldi, entre 2011e 2013, o advogado da asssociação, Wilson Précoma, afirmou que o centro será fechado em até quatro meses.
“O nosso problema não é só a dívida, mas é não poder receber recursos do poder público. Nós dependemos de contribuições públicas, porque o CTG é uma entidade cultural e até foi tombado pelo município. Ele se mantém de doações dos sócios e do poder público. Se as providências não forem tomadas e a gente não conseguir reverter a situação, as contas serão bloqueadas e o CTG fechará”, afirmou.
Segundo a defesa do centro, o ex-patrão à época teria se apropriado do dinheiro proveniente de dois convênios com o estado, de R$ 120 mil cada, sem ter realizado a devida aplicação no CTG. Dessa forma, a associação foi condenada a ressarcir os recursos desviados, mais juros e correções monetárias, aos cofres públicos. O valor a ser pago ultrapassa R$ 1 milhão.
Além disso, após investigação interna, a atual gestão do CTG concluiu que outros ex-patrões teriam protegido o antigo gestor e encoberto os desvios, manipulando processos judiciais com fraudes e defesas falsas.
Conforme Précoma, os ex-patrões envolvidos fazem parte de um esquema para influenciar a opinião dos 350 sócios do centro e difamar a atual patronagem do CTG e a defesa. O advogado disse que os ex-patrões são a favor da dissolução da associação, pois, conforme o estatuto interno, se isso ocorrer, eles serão beneficiados financeiramente.
“Não queremos que o CTG seja extinguido. Há uma falha no estatuto que diz que, caso o CTG seja dissolvido, o patrimônio será dividido entre os sócios. A população vai ser afetada com o fechamento, não só os gaúchos. A Semana da Farroupilha é um marco cultural, é onde escutam músicas tradicionais, comem da culinária gaúcha e veem as apresentações. Seria uma perda muito grande”, relatou.
O advogado informou, ainda, que a comissão interna instalada para julgar o Processo Administrativo Disciplinar e Investigatório (Padi), referente ao desvio dos recursos, aprovou por unanimidade a exclusão dos sócios envolvidos. Eles deverão apresentar defesa e, posteriormente, o Plenário do CTG tomará a decisão.
O atual patrão do CTG, Jayme Huppes, lamentou a situação e afirmou que o processo em andamento tem atrapalhado a administração do centro.
“Por causa disso, a gente tem que redobrar o trabalho e a atenção. Nós temos uma história com o estado desde 1981. Outras associações de Roraima também precisaram fechar devido às más gestões anteriores. Seria uma pena se a nossa história se encerrasse dessa forma. Estamos trabalhando para reverter a situação”, declarou Jayme.
Outro lado
Procurada, a defesa de Irno Araldi negou que tenha ocorrido desvio de dinheiro durante a gestão. Afirmou, ainda, que a lei impossibilita o benefício dos sócios com o fechamento do CTG e criticou a atual patronagem do centro. Confira a nota na íntegra:
“Todas essas informações são meras conjecturas de pessoas que desconhecem a história do CTG Nova Querência e que apenas na atualidade buscam um protagonismo que não possuem para se perpetrarem na administração e manipulação de valores.
Por anos os patrões investiram do próprio bolso para manterem o CTG funcionando e, pela simples leitura do processo, a condenação jamais ocorreu por desvio de qualquer valor. Todo aporte financeiro foi aplicado diretamente na instituição, mas constatada a diferença de finalidade na prestação de contas dos dois convênios à época, sendo utilizado no próprio CTG, como confirmado em sentença judicial.
O atual montante apenas chegou a tal absurdo pela total inércia da atual administração como forma de tirar os holofotes de desvios de valores públicos recebidos no ano de 2024 nos valores aproximados de 850 mil reais subvencionados à obra de reforma do local, a qual a atual gestão do CTG não quer prestar contas, conforme liminar do processo 0801589-74.2025.8.23.0010, anulando todos os procedimentos de acusação, deferida pelo Judiciário Roraimense contra o grupo que ventila os ufanismos absurdos e que responderá, tanto no Judiciário como em conselho de classe, pelas infundadas acusações.
Por fim, o mínimo conhecimento da lei deixa clara a impossibilidade de fechamento do CTG e beneficio de sócios. Em uma eventual paralisação das atividades qualquer associação deve ser liquidada e seu patrimônio transferido a outra associação de mesma finalidade, como dispõe o Código Civil e o próprio estatuto”, disse.
Leocádio Vasconcelos, um dos ex-patrões acusados de terem encoberto os supostos desvios, também se manifestou. Ele também negou a versão da defesa do CTG
“Isso é 100% mentira. A única coisa imputada a mim é que eu contratei a mesma advogada do Irno para defender o CTG, porque era um processo só. Quem quer fechar o CTG são eles [patrão do CTG e defesa], eles estão afastando os sócios com essas acusações. Não queremos fechar o CTG em hipóteses alguma. Nunca fiz nada para acobertar o Irno”, alegou.
O post “Se as providências não forem tomadas, o CTG fechará”, afirmou advogado apareceu primeiro em Folh BV.