Biden, o presidente que tentou afastar Trump

O presidente Joe Biden faz seu discurso de despedida à nação em 15 de janeiro de 2025, no Salão Oval da Casa Branca, em WashingtonMANDEL NGAN

Mandel NGAN

Joe Biden queria entrar para a história como o presidente que salvou “a alma” dos Estados Unidos ao afastar o seu inimigo Donald Trump, mas terá de ceder o poder após perder a luta contra a velhice e o populismo.

Na segunda-feira (20), o democrata de 82 anos entregará as chaves da Casa Branca ao republicano, seu antecessor e agora sucessor.

Ele deixa o cargo preocupado. Em um discurso de despedida, alertou a seus compatriotas que uma “oligarquia” com “uma riqueza, poder e influência extremas” está se formando no país e “ameaça” a democracia.

“Agora é sua vez de ficar de guarda”, disse, fazendo alusão aos magnatas de empresas tecnológicas que apoiam Trump, especialmente o homem mais rico do mundo, Elon Musk.

O 46º presidente dos Estados Unidos, que se descreve como amigo da classe operária e pede impostos mais altos para os super-ricos, controlou a pandemia, reanimou a economia e renovou as alianças internacionais. Também lançou grandes projetos de transição energética, reindustrialização e infraestrutura, deixando uma economia forte para seu sucessor.

Mas a retirada caótica do Afeganistão em 2021 foi um duro golpe para sua imagem, acentuando-se mais tarde quando a inflação disparou.

Nem sua resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia nem seu apoio incondicional a Israel na guerra de Gaza conseguiram corrigir a impressão de fraqueza projetada por ele.

– Salvar “a alma” –

O democrata diz estar ciente de que “levará tempo para sentir o impacto” de seu legado. “Mas as sementes foram plantadas”.

Este católico fervoroso se sentia responsável por uma missão tanto espiritual quanto política: salvar a “alma” do país.

Nascido na cidade de Scranton, na Pensilvânia, Biden é um exemplo de superação. Quando criança, ele era alvo de piadas devido à sua gagueira, que combateu recitando poesia.

Sua vida foi marcada por tragédias pessoais. Ele perdeu a primeira esposa e a filha em um acidente de carro, seu filho primogênito Beau, em quem ele via um possível futuro presidente, morreu de câncer e seu segundo filho, Hunter, tinha problemas com álcool e drogas.

Mais tarde, casou-se novamente com Jill Biden, mãe de sua filha Ashley.

Ele também demonstrou grande resiliência em seus 50 anos de carreira política.

O democrata entrou para a política durante a Guerra do Vietnã, mas como era estudante de direito, escapou do combate.

Profundamente centrista, Biden sempre preferiu paletós a estampas psicodélicas e assistiu a manifestações pacifistas com desdém.

– “A magia dos Estados Unidos” –

O democrata chegou à presidência em sua terceira tentativa, e prometeu cumprir um único mandato para ser uma “ponte” para a próxima geração.

Mas não concluiu sua promessa. Concorreu à reeleição apesar de sua idade e foi forçado a ceder o lugar para a vice-presidente Kamala Harris no meio da campanha.

Nos últimos tempos, a gagueira e as frases inacabadas no debate eleitoral de junho contra Trump pioraram a situação e ele acabou se tornando uma preocupação para o Partido Democrata.

Em seus últimos dias no cargo, ele organizou uma transição civilizada que Trump lhe negou.

Em 1º de dezembro, concedeu um perdão presidencial ao seu filho Hunter, apesar de ter dito que nunca faria isso.

“Para mim, a família é tudo”, reconheceu o democrata na quarta-feira ao se despedir do país, que ele define com uma palavra: “possibilidades”.

“Somente nos Estados Unidos acreditamos que tudo é possível, como uma criança gaga de origem humilde (…) sentada atrás desta mesa no Salão Oval como presidente. Essa é a magia dos Estados Unidos”, declarou.

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