Ofício da Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME) menciona que os garimpeiros estão na comunidade Wacchannha, em Waikás, na região do Uraricoera. Região de Waikás, na Terra Yanomami.
Júnior Hekurari/Divulgação/Arquico
A Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME) denunciou nesta sexta-feira (11) que garimpeiros voltaram para a Terra Indígena Yanomami mesmo após serem abordados em operações de fiscalização. A denúncia foi enviada ao Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Polícia Federal e Exército Brasileiro.
O ofício menciona que os garimpeiros estão na comunidade Wacchannha, em Waikás, na região Uraricoera e têm ameaçado a comunidade por denunciar o garimpo. Procurados, os órgãos não responderam até a última atualização da reportagem.
“Os garimpeiros estão em volta da comunidade Waikás, causando muitos transtornos às mulheres, enquanto elas trabalham nas suas roças; que nossas mulheres e crianças estão correndo riscos de abuso e exploração sexual, enquanto nossos jovens têm sofrido tentativas de aliciamento ao crime. Ressaltam, também, que os invasores abordam a comunidade indesejadamente, à procura de algum jovem Ye’kwana para descer até a cidade como piloto”, detalha o documento.
Desde fevereiro deste ano, há três operações deflagradas para a desintrusão de garimpeiros do território: da Polícia Federal, Forças Armadas e Ibama. Desde então, 218 pessoas foram presas.
Os invasores que estão em Waikás, segundo a Associação, “são pessoas que são detidas, chamadas a depor e em seguida liberadas pela Justiça, outros se entregam aos agentes, mas retornam para a atividade”. Por conta do retorno dos invasores e constantes ameaças, os indígenas estão se sentindo inseguros.
A região de Waikás, mencionada pelas lideranças, é mesma em que garimpeiros ilegais atacaram a tiros militares das Forças Armadas há duas semanas. Além disso, foi nesta mesma localidade que invasores ilegais atacaram a tiros equipes da PRF e Ibama durante fiscalização e quatro garimpeiros foram mortos. O ataque foi garimpo conhecido como “Ouro Mil”, onde há forte atuação de invasores e grupos criminosos.
As atividades de retirada dos garimpeiros ocorrem por meio de sobrevoos, mas o método não é 100% efetivo, pois desde então eles estão se escondendo, junto com as máquinas, no meio da floresta, avaliou a associação.
Rio Uraricoera tem região mais crítica
As lideranças alertaram ainda que os agentes federais devem fazer as missões subindo o rio Uraricoera até onde for possível, pois é onde a presença dos invasores está intensificada. Além disso, para burlar a fiscalização, os garimpeiros têm circulado das 16h às 06h porque neste horário não há operações de fiscalização.
Todas as operações de segurança ocorrem desde que o governo federal declarou situação de emergência para combater desassistência de indígenas Yanomami – impactados pelo garimpo ilegal, eles enfrentavam graves casos de malária, desnutrição e verminoses.
O ofício denunciou ainda que há um garimpeiro conhecido como Izaquiel morando na casa de uma mulher indígena, dentro da comunidade. Ele afirma estar casado com ela, mas a senhora relatou que “o invasor está morando (com ela) apenas desde o início da operação de retirada dos garimpeiros”. A comunidade acredita que o homem está pedindo para ficar na casa dela para fugir da operação.
Devido à continuidade das ações dos garimpeiros, a associação sugeriu que os órgãos competentes adotem as seguintes medidas:
A operação ocorra com foco na destruição de toda estrutura usada pelos garimpeiros e para interromper o envio de suprimentos para o garimpo e o possível escoamento do minério extraído ilegalmente, com a meta de retirar todos os invasores e identificar os financiadores da atividade ilegal que causa destruição ao meio ambiente e à vida dos Ye’kwana, na comunidade Waikás;
O reforço policial dentro da comunidade Waikás, para reduzir a ameaça que a comunidade sofre por meio do fornecimento de segurança interna;
A construção de uma base de operações em Waikás;
A retirada do Sr. Izaquiel de Waikás, para que ele seja questionado sobre suas intenções dentro da TIY, considerando que sua presença, em si, já é ilegal;
A retirada dos restos das balsas queimadas nos igarapés.
“O garimpo afeta nossos modos de vida, porque temos medo de usar os rios e igarapés para caçar. As operações que foram realizadas recentemente, bem como todas as outras, são muito bem-vindas […] As operações vão embora, mas as comunidades ficam, e por isto precisamos que todas as atividades realizadas sejam as mais eficazes possíveis evitando assim o retorno dos garimpeiros”, pediu a associação.
Terra Yanomami
Maior território indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami enfrenta uma crise sanitária e humanitária sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa – problemas agravados pelo avanço de garimpos ilegais nos últimos quatro anos.
A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devasta o meio ambiente – com o aumento do desmatamento, poluição de rios devido ao uso do mercúrio, e prejuízos para a caça e a pesca, impactando nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.
Desde o dia 20 de janeiro, a Terra Yanomami está em emergência de saúde pública. Desde então, o governo federal atua para frear a crise com envio de profissionais de saúde, cestas básicas e desintrusão de garimpeiros do território – este último tem como linha de frente o Ibama, Polícia Federal, Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal (PRF).
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