Beneficiário do ‘Armário Social’ apoiado pela ALE-RR diz que campanha foi luz em sua vida: “não tinha ninguém”

Há pouco mais de um mês livre do sistema prisional, Leonardo Matos conta que se viu “desamparado”, e que doações foram de grande valia para começar uma nova vida. “Foi uma ajuda muito bem-vinda.
Jader Souza
Iniciada em maio deste ano, a campanha ‘Armário Social’, do Escritório Social, programa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que em Roraima tem como principal parceira a Assembleia Legislativa (ALE-RR), arrecada roupas e calçados para pessoas privadas de liberdade, beneficiadas com a saída temporária e alvarás de soltura, custodiadas que participam de audiências admonitórias e egressas.
Ação do Escritório Social, do CNJ, arrecada roupas e calçados que beneficiam reclusos com saída temporária, alvarás de soltura, custodiados e egressos.
Eduardo Andrade
Com o slogan “Despindo preconceitos e vestindo cidadania”, no dia 12 de maio a ação realizou a primeira remessa das doações recebidas. A unidade contemplada foi a Cadeia Pública Masculina de Boa Vista. Ao todo, são cinco pontos de coleta na cidade. (Confira ao final da matéria).
Um dos beneficiados pela campanha foi o Leonardo da Silva Matos. Há pouco mais de um mês livre do sistema prisional, ele conta que se viu “desamparado”, e que as doações foram de grande valia para começar uma nova vida.
“Você sai do sistema [prisional] só com a roupa do corpo”, conta Leonardo, beneficiário do “Armário Social”, campanha de arrecadação de roupas e calçados apoiada pela Casa Legislativa.
Nonato Sousa
“Foi uma ajuda muito bem-vinda, porque eu saí sem nada, não tinha ninguém e, naquele momento, eu tive que me “virar nos trinta”. Então, encontrei no projeto um apoio. Estava necessitando, e o Escritório Social foi uma luz. Você sai do sistema [prisional] só com a roupa do corpo. Se você não tiver um apoio familiar ou de alguém, se tornam difíceis as coisas. Se você não sair, realmente, querendo uma mudança na vida e não lutar pelo que quer, as chances são de voltar ao crime, de procurar uma vida desocupada, mais fácil, como dizem”, avaliou.
O programa entrou na vida de Leonardo assim que ele deixou a Cadeia Pública de Boa Vista. Indicado por uma servidora da unidade prisional, ele procurou o Escritório Social que o auxiliou, também, com a regularização de sua documentação pessoal.
“Eles fizeram todo o encaminhamento em cima da minha necessidade maior, que eram os meus documentos. Como eu iria arrumar um emprego sem eles? Como eu ia chegar em um local para trabalhar sem documentos? Então, hoje, posso ter um outro emprego de carteira assinada, fazer alguns cursos e, até mesmo, uma faculdade se eu tiver a oportunidade”, relatou.
Leonardo, que atualmente trabalha na produção de uma horta, na zona rural de Boa Vista, pretende investir nos estudos, para “ter oportunidades na vida”.
Jader Souza
Atualmente, o egresso trabalha na horta de uma chácara na zona rural de Boa Vista. Ele conta que conseguiu o emprego através de referências de um amigo. No local, segundo ele, faz um pouco de tudo, desde cuidar da terra para o plantio, até a separação e amarração dos produtos para entrega. Apesar de possuir uma ocupação, Leonardo conta que não parou de estudar, mesmo no período em que esteve recluso, e que pretende alcançar algo melhor futuramente.
“O Escritório Social ajuda muito. Acho que é uma oportunidade que deve ser para todos. Têm pessoas que, realmente, querem uma mudança na vida, porém, não têm um apoio. O Escritório entrou nessa área, de eu conhecer meus direitos, de buscar uma educação, estudar, e ter oportunidades na vida. Eu nunca parei de estudar. Procuro aprender as coisas, a viver a experiência. Tudo eu tiro como aprendizagem na minha vida, cada dia que passa, cada minuto eu aprendo. É uma aula todo dia. Agora, quero algo melhor para minha vida, e não o que eu estava vivendo”, concluiu.
A ideia do projeto é proporcionar aos egressos uma saída digna, já que a instituição promove um suporte e ressocialização dessas pessoas, como destacou a coordenadora em Roraima, Décima Rosado.
“Por que não saírem vestidos adequadamente? Por que não deixar a farda de canto e saírem da forma digna que merecem? É uma nova vida. Então, já que terão um recomeço, vamos começar dignamente”, frisou.
De acordo com ela, toda e qualquer ajuda será sempre bem-vinda. A coordenadora fez, ainda, um convite à população.
“Vocês que estão de férias, em casa, vamos revisar o guarda-roupa para ver se há alguma peça que não use mais, mas, que esteja em boas condições. Vamos ajudar essas pessoas que saem do sistema prisional. Vejam isso com bons olhos. Vamos acabar com esse preconceito e discriminação, e dar a nova oportunidade a quem precisa”, reforçou Décima.
“A gente apela para que a sociedade veja o lado humano. Veja a pessoa com outro olhar. Não é porque ela está lá no sistema [prisional], que acabou a vida dela. Essas pessoas precisam de oportunidades, senão o que vai ser delas?”, indaga a coordenadora do Escritório Social em Roraima, Décima Rosado.
Eduardo Andrade
A próxima entrega de roupas e calçados será feita no dia 12 de agosto, na Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc), devido ao benefício da saída temporária do dia dos pais.
O projeto
A campanha “Armário Social” tem caráter permanente e a população pode realizar a doação de vestimentas e calçados em um dos seguintes pontos de coleta:
● Assembleia Legislativa de Roraima
Endereço: Praça do Centro Cívico, 202 – Centro, Boa Vista – RR;
● Escritório Social Roraima
Endereço: Avenida Getúlio Vargas, 4876, São Pedro – Boa Vista – RR;
● Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – Sejuc
Endereço: Avenida Getúlio Vargas, 8120 – São Vicente, Boa Vista – RR;
● Defensoria Pública Criminal
Endereço: Rua Soldado PM Arineu Ferreira Lima, 1415 – Caranã, Boa Vista – RR;
● Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social – Setrabes
Endereço: Av. Mário Homem de Melo, 2310 – Mecejana, Boa Vista – RR.
O programa
O Escritório Social faz parte do programa Fazendo Justiça, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em Boa Vista, foi implantado por meio de um termo de cooperação técnica entre os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo Estadual, sendo a Assembleia Legislativa a principal parceira financeira e de logística do programa.
“Temos um corpo técnico treinado pelo CNJ para dar essa atenção devida ao egresso do sistema prisional, direcionando eles ao mercado de trabalho, o que é de grande relevância”, disse o presidente da Casa Legislativa, deputado Soldado Sampaio .
Nonato Sousa
A unidade presta auxílio psicológico, jurídico, social e administrativo aos egressos e pré-egressos do sistema prisional, bem como de seus familiares. Desde a implantação em 2019, foram registrados mais de 1,8 mil atendimentos, possibilitando a redução da reincidência criminal e a promoção da inclusão desses indivíduos no mercado de trabalho.
Os interessados em buscar ajuda do Escritório Social podem se dirigir ao endereço mencionado acima, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h, pelo telefone (95) 98402-2591 ou ainda pelo e-mail: [email protected].