Kellyane Melquior Messias, de 18 anos, disputou o concurso estadual com outras sete candidatas, no Teatro Municipal de Boa Vista. Jogadora de vôlei e estudante de fisioterapia, ela também quer evidenciar a realidade de jovens mulheres indígenas. Kellyane Melquior Messias, miss indígena Roraima 2023.
Reprodução/Instagram/kellymessias_05
Jogadora de vôlei, estudante de fisioterapia e agora dona do título de Miss Indígena Roraima 2023. Essas são as atribuições de Kellyane Melquior Messias. Aos 18 anos, a jovem do povo Macuxi foi a grande vencedora do concurso deste ano e afirmou que pretende conduzir o reinado dando representatividade a cultura e realidade dos povos indígenas, em especial as jovens mulheres. “Tenho como legado poder lutar e alcançar os nossos espaços na sociedade”, diz a jovem.
Natural de Uiramutã e representando o município no concurso, a miss disputou o título com outras sete candidatas e se tornou a segunda roraimense escolhida no Miss Indígena Roraima. Ela foi “coroada” no último sábado (15).
Nascida na comunidade Ticoça, no mesmo município, a jovem se mudou para a capital Boa Vista quando ainda era criança, aos 11 anos, após o pai dela conseguir um novo emprego na cidade. Mas, segundo ela, ter crescido longe da comunidade indígena não fez com que perdesse a sua cultura.
“Os meus pais sempre me mostraram sobre a cultura, o pertencimento do povo Macuxi. Sempre que vou na comunidade tenho contato com meus avós ou até com a própria comunidade que vivenciam isso [a cultura]. Hoje, comecei a participar de manifestações e movimentos em prol dos direitos dos povos indígenas de Roraima”, afirmou a jovem miss.
No concurso, Kellyane Melquior Messias pediu o fim do garimpo ilegal em terras indígenas.
Leandro Kacique
Durante a apresentação no concurso a jovem protestou contra o garimpo ilegal em terras indígenas, que aumentou mais de oito vezes entre 2016 e 2022 na região Norte do Brasil. Além disso, pediu que o povo Yanomami, que há anos enfrenta o avanço da atividade ilegal, fosse salvo.
Ao g1, Kellyane contou que essa foi a primeira vez que participou do concurso, que classificou como desafiador. Para ela, o evento também foi um “mix de emoções” e permitiu que compartilhasse vivências com outras mulheres.
“Eu pude conhecer outras candidatas, que eram muito fortes, com uma história linda. Nós tivemos encontros, trocas de experiências e compartilhamos vivências das nossas realidades. No dia do concurso foi um mix de emoções porque eu fiquei bastante nervosa, mas pude respirar, disse.
Mas a passarela do Miss Indígena Roraima não foi a primeira a ser percorrida pela jovem. Em 2022, ela concorreu e venceu o “Garota Paiuá”, disputa que ocorre todos anos durante o tradicional Festejo de Uiramutã.
Neste ano, a possibilidade de representa a história do seu povo e as suas raízes indígenas foram suficientes para incentivar a jovem a encarar a disputa de miss. Segundo ela, o apoio da família e dos amigos foi essencial para que se ela continuasse no concurso, embora não esperasse vencer a competição.
“Essa vitória representa minha vida, o meu povo, minhas raízes, são muitas representações na verdade. Mas, uma delas que eu tenho como legado é a de poder lutar e alcançar os nossos espaços na sociedade”, ressaltou Kellyane Melquior.
Kellyane Messias é jogadora de vôlei e faz faculdade de fisioterapia
Reprodução/Instagram/Kellymessias_05
Jogadora de vôlei desde os 12 anos, Kellyane também usa o nome indígena de Tukuipa, que significa beija-flor no idioma Macuxi. De acordo com a jovem, a escolha do nome surgiu da própria identificação dela com a ave, que “desempenha uma função muito importante para a natureza”.
Como Miss Indígena de Roraima, a jovem quer dar visibilidade a cultura e, principalmente, a realidade de jovens mulheres indígenas. O objetivo dela é realizar um trabalho consciente e coerente com a causa indígena, capaz de conquistar mais espaços.
“Eu quero dar visibilidade a toda nossa cultura, principalmente a realidade das jovens mulheres indígenas porque essa é a minha missão. Junto com a coordenação do concurso, eu pretendo atuar na realização e participação de eventos indígenas”, afirmou a jovem.
Kellyane Messias é escolhida como Miss Indígena Roraima 2023.
Leandro Kacique
A primeira edição do concurso ocorreu em setembro de 2021, quando Mari Wapichana foi eleita. No ano seguinte não teve a disputa, que voltou este ano com uma novidade: pela primeira vez elegeu um jovem como Mister Indígena Roraima. O escolhido foi Israel da Silva Oliveira, de 24 anos, do povo Macuxi.
O Miss Indígena Roraima 2023 aconteceu no último sábado (15), no Teatro Municipal de Boa Vista. O concurso de Miss e Mister Indígena Roraima deste ano foi realizado pela Associação Estadual Indígena Dunui Sannau, que tem como presidente o Márcio Alexandre da Silva, do povo Wapichana.
No Miss Indígena não existe a tradicional coroa entregue aos vencedores de concursos de beleza mundo afora. Neste caso, como forma de marcar a cultura e tradição indígena, foi entregue um cocar para Kellyane e Israel.
A peça representa os 11 povos indígenas do estado: a pena maior significa o vencedor do concurso, as duas penas médias representam o 2° e 3° lugar, e o restantes completam os povos.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
Estagiária sob supervisão de Yara Ramalho*
Miss Indígena Roraima 2023, jovem Macuxi pretende ‘alcançar espaços’ para dar visibilidade à cultura e realidade dos povos indígenas
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