Professor cria projeto de futsal como alternativa para afastar crianças da criminalidade em Boa Vista

Projeto ‘Seleção do Futuro’ é desenvolvido no Vila Jardim e atende a 36 meninos de forma gratuita. Professor vê falta de recursos financeiros como principal desafio, mas enxerga no esporte a possibilidade mudança na vida dos alunos. Projeto ‘Seleção do Futuro’ nasceu com o objetivo de livrar crianças que vivem no Vila Jardim da criminalidade
Abgail Ramos/Rede Amazônica
Um projeto social, chamado de “Seleção do Futuro”, tem feito a diferença no condomínio Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, zona Oeste de Boa Vista. Idealizado e desenvolvido pelo professor de educação física Paulo Fabiano, o trabalho oferta gratuitamente aulas de futsal a meninos com idades de 6 a até 15 anos. A ideia é afastar crianças e adolescentes da criminalidade.
Atualmente o projeto atende a 36 meninos que vivem no Vila Jardim. Paulo Fabiano conta que há cerca de um ano testemunhou a criminalidade impactar na vida de crianças e jovens da região.
Diante da falta de políticas públicas do estado para mudar a realidade, ele decidiu agir e desenvolver o projeto social. As aulas ocorrem de segunda às sexta-feira, na quadra de futsal do condomínio.
“Nosso objetivo é tirar as crianças do mau caminho. Vivemos aqui dentro do residencial lutando contra o sistema. Em um ano e dois meses, já conseguimos ajudar jovens atletas, que agora estão contribuindo mais em suas casas”, relata Paulo.
Todas as noites, os pequenos craques do futsal descem até a quadra, colocam seus coletes e se dividem em times – dali em diante, a disputa vai além do futsal.
O professor explica projeto ultrapassa as regras do do futsal. Busca desenvolver habilidades socioemocionais, incentivar a educação e criar um ambiente de suporte e mentoria. Os meninos que integram a Seleção do Futuro têm acesso a treinamentos regulares.
Professor de educação física Paulo Fabiano oferta projeto de maneira gratuita
Abgail Ramos/Rede Amazônica
Nos treinos, o professor reforça não apenas as técnicas esportivas, mas também os valores fundamentais para o convívio social, como respeito, disciplina, responsabilidade e trabalho em equipe.
Paulo Fabiano pontua, por exemplo, a importância da responsabilidade para todos eles, atribuindo tarefas aos participantes, desde a limpeza da quadra pelos mais velhos, até o recolhimento de materiais pelos mais novos ao fim das atividades.
Para os pais, o projeto se tornou um símbolo de esperança. Iolanda da Silva, mãe de dois meninos que frequentam o projeto, afirma ver na rotina diária os bons frutos do trabalho social.
“Antes do projeto, eu temia que meus filhos se envolvessem com más influências. Vivíamos com medo de que eles se perdessem no mundo das drogas e bebidas. Mas desde que começaram a frequentar o futsal, nossa vida mudou completamente. Agora, eles estão cercados por pessoas que se importam”, disse a mãe dos pequenos atletas.
Muitas crianças envolvidas na Seleção do Futuro avaliam a experiência como mais do que apenas praticar um esporte – funciona também como uma oportunidade de sonhar além das dificuldades enfrentadas em suas casas.
Filho de Iolanda, Kauê Ian, de 11 anos, expressa com entusiasmo esse sentimento: “antes do futsal, eu não sabia o que queria ser quando crescesse. Agora, meu sonho é ser como o Thiago Maia e representar Roraima no Flamengo”, planeja.
Nascido e criado em Roraima, o jogador Thiago Maia, volante do Flamengo, acumula vitórias no time carioca e se tornou um dos dos esportistas roraimenses de maior destaque no cenário nacional e até internacional.
Projeto proporciona oportunidades através esporte para crianças e adolescentes
Desafios
Mas, afastar as crianças da criminalidade é apenas um dos desafios do projeto. Sem recursos financeiros, manter o Seleção do Futuro em um funcionamento é uma outra luta diária. Isso porque o professor tira do próprio bolso o dinheiro para comprar os materiais usados nos treinos, com as bolas e os cones.
Além disso, a infraestrutura inadequada, como a falta de iluminação na quadra, representa desafios adicionais. O professor Paulo afirma ainda que cerca de 70% dos alunos não possuem a chuteira apropriada para o futsal. Mas, ele reforçou a importância do reconhecimento da sociedade sobre o papel do esporte como ferramenta de transformação social.
“O Vila Jardim não é só violência, e eu espero que as pessoas de fora possam enxergar isso e que elas entendam que aqui existem moradores de bem e que o esporte transforma tudo ao seu redor”, concluiu.
*Com colaboração e produção de Abgail Ramos