Indígenas relataram à Hutukara Associação Yanomami que garimpeiros estavam em barco fugiram rumo à região chamada de ‘garimpo do Rangel’ após o ataque. Um dia depois, invasores atiraram contra agentes da PRF e Ibama, em outra área da Terra Yanomami. Pf faz perícia em barco com marca de tiros após ataque na Comunidade Uxiu, na Terra Yanomami
Arquivo pessoal
Indígenas da comunidade Uxiu faziam um ritual fúnebre quando foram atacados a tiros por garimpeiros armados na Terra Indígena Yanomami. Na ação, três indígenas foram baleados – um deles, atingido na cabeça, morreu. Os detalhes sobre como aconteceu o tiroteio foi divulgado nesse domingo (1º) em um comunicado da Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização do povo.
Uxiu fica na região do rio Alto Mucajaí, uma das rotas usadas pelos criminosos no território. Com base em relatos dos indígenas que vivem na região, a Hutukara afirma que, após o ataque, ocorrido no sábado (29), um grupo de indígenas ainda seguiu os invasores pelo rio, mas eles revidaram novamente com tiros.
“Segundo relatos locais que coletamos junto aos parentes, as três vítimas estavam em frente a comunidade no ritual ‘reahu’, no processo de chorar os mortos em cerimônia fúnebre, às margens do Rio Mucajaí, quando um barco com seis garimpeiros passou e fez os primeiros disparos com arma de fogo, em direção ao grupo que participa do ritual, entre as pessoas estavam várias crianças e mulheres. Nesse momento, a primeira vítima foi atingida com um tiro na testa”, afirma a associação.
Os três indígenas feridos foram socorridos de helicóptero, por volta de 15h30 de sábado, e levados à unidade de saúde em Surucucu, onde passaram o resto da tarde e a noite.
Ilson Xiriana, ferido na cabeça, não resistiu e morreu aos 36 anos antes de ser removido à capital. Os outros dois, baleados no abdômen,foram transferidos para Boa Vista, passaram por cirurgia e estão internados.
A Polícia Federal abriu inquérito e investiga o ataque. Ainda na manhã de domingo, agentes foram à comunidade Uxiu, onde ouviram testemunhas, fizeram perícia no local e coletaram indícios do ato criminoso.
Para passar na comunidade Uxiu, segundo a Hutukara, o grupo de garimpeiros embarcou em um porto ilegal conhecido como “Sítio 14”. De lá, eles precisam passar pelo posto de fiscalização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas em Walo Pali.
“Depois do ataque, o grupo de criminosos seguiu para a região de garimpo conhecido como ‘garimpo Rangel’, na região de Surucucu”, afirma a Hutukara.
“Segundo os depoimentos, os garimpeiros estavam embriagados e armados com calibre 380, também conhecido como “9mm Curto”, os vestígios foram coletados pelos indígenas e entregues à Polícia Federal. As lideranças acreditam que pelo armamento pode significar que um grupo de facção tenha se instalado na região”, detalha a Hutukara.
Uma dia depois do ataque em Uxiu, em outra região da Terra Yanomami, garimpeiros armados atiraram contra agentes da Polícia Rodoviária Federal e do Ibama, na região do garimpo “Ouro Mil”, em Waikás. Houve confronto e quatro garimpeiros morreram – um deles se chamada Sandro Moraes de Carvalho e era chefe de facção e estava foragido da Justiça do Amapá.
Reforço na segurança
Após o ataque aos indígenas e o confronto com os agentes federais, o governo federal anunciou reforço nas equipes que atuam contra garimpeiros na Terra Yanomami.
“O estado brasileiro não vai recuar face à criminalidade. As ações vão ser intensificadas. Vamos reforçar as equipes do Ibama, da PRF, da Polícia Federal, com as Forças Armadas, que é fundamental o suporte logístico, e toda parte operacional para que a gente possa dar uma respostas a altura”, afirmou a ministra do Meio Ambiente e Clima, Marina Silva, que estava em Roraima após os dois casos.
Ainda não foi detalhado como e quando vai ocorrer o esse reforço. O g1 procurou o governo federal e aguarda resposta.
Além de Marina, estiveram em Roraima as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da Saúde, Nísia Trindade. Também integrou a comitiva o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, o secretário nacional de Segurança Pública, Francisco Tadeu de Alencar, o diretor para Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt, e o secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba.
Indígenas faziam ritual fúnebre quando foram atacados a tiros por garimpeiros na Terra Yanomami, diz associação
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