A visita constatou ainda que o acervo está sob iminente risco de danos. Museu Integrado de Roraima foi inaugurado em 1985 e demolido no início de maio após 12 anos de abandono. Salas estão ocupadas pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater)
MPF/Reprodução
O Ministério Público Federal (MPF) encontrou equipamentos agrícolas e galões de água durante uma inspeção em salas que deveriam guardar o acervo do Museu Integrado de Roraima (MIRR). O relatório da inspeção foi divulgado pelo órgão nessa terça-feira (13).
O prédio, antes localizado no Parque Anauá, zona Leste de Boa Vista, foi demolido pelo governo após 12 anos de abandono. Desde 2019, os materiais estão no Parque Tecnológico. A visita constatou que o acervo está sob iminente risco de danos.
O MPF visitou o acervo após a matéria do g1 sobre a demolição do prédio, segundo o relatório do órgão. A inspeção teve o objetivo de diagnosticar a real situação do material patrimonial histórico-cultural da instituição
Único museu de Roraima é demolido após mais de uma década abandonado e especialistas lamentam
Em nota, o governo de Roraima informou que as peças “estão devidamente acondicionadas” e que está prevista a construção de um espaço adequado e seguro para o funcionamento do Museu e exposição das peças.
“O projeto arquitetônico prevê o funcionamento do Museu dentro do Centro Cultural do Parque Anauá, que também abrigará a Escola de Música e auditório para apresentações artísticas. O Centro Cultural, onde funcionará o Museu, está previsto para ser construído na terceira fase do Projeto de Revitalização do Parque Anauá”, completou.
Atualmente, o museu divide espaço com a Secretaria de Agricultura. A visita do MPF ocorreu em conjunto com técnicos e representantes do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural do (Iphan).
“Os itens estão distribuídos por corredores e salas sem espaço adequado e estrutura física necessária à preservação e acomodação do material […] O MPF também constatou que diversas salas que deveriam estar disponíveis ao Museu encontram-se com equipamentos de agricultura ou até mesmo servindo como depósito, prejudicando as atividades de conservação, pesquisa e extroversão”, apontou.
As salas projetadas para executar atividades próprias do museu são ocupadas pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater), apontou o MPF.
Ao MPF, a direção do do MIRR contextualizou as diferentes mudanças de gestão e destinação que levaram o Museu a dividir espaço com outros órgãos. Segundo o relato, com a extinção do Instituto de Apoio à Ciência e Tecnologia (IACT), órgão ao qual o MIRR era vinculado, o Museu passou a compor a Secretaria de Cultura.
Assim, os prédios destinados ao MIRR, construídos por meio de convênio para a criação do Parque Tecnológico com o objetivo de promover melhoria na infraestrutura de pesquisa no âmbito do Museu, teriam sido também ocupados por departamentos ligados à Secretaria Estadual de Agricultura.
Parte do acervo do Museu Integrado de Roraima
MPF/Reprodução
Além do acervo de ciências naturais, que inclui diversas coleções de referência científica, incluindo herbário, insetário, carpoteca, xiloteca, coleções de répteis e peixes, etc, o Museu também abriga importantes coleções de artefatos arqueológicos e de objetos da cultura material dos povos indígenas de Roraima, bens de interesse federal específico.
A estimativa toda é que o acervo contemple mais de 38 mil itens. Apesar de não ter sede própria, o MIRR recebeu, entre julho de 2022 e maio de 2023, 3 mil visitas.
“O Museu permanece resistindo e funcionando da maneira possível, mesmo com demolição do edifício sede, restrição de recursos humanos, espaço físico reduzido e inadequado, bem como falta de priorização pela Administração Pública estadual”, destaca o relatório.
Ainda se constatou a ausência de catalogação adequada dos itens que compõem o acervo do MIRR. Na visão do MPF, o processo de inventário é imprescindível para o conhecimento do conjunto dos materiais e funciona como pressuposto da realização das atividades de conservação, pesquisa e extroversão do Museu.
Demolição do prédio
Museu Integrado de Roraima foi demolido pelo Governo de Roraima
Caíque Rodrigues/g1 RR
Inaugurado em 1985 – há 38 anos, o Museu Integrado de Roraima foi aberto com os objetivos de “pesquisar, identificar, cadastrar, conservar e expor didaticamente o patrimônio natural e cultural do estado”, segundo o Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O prédio do Museu estava desativado desde desde 2011. Em 2015, um laudo do Corpo de Bombeiros interditou por medida de segurança, “uma vez que a estrutura de madeira estava comprometida pela ação do tempo e de vetores como cupins.”
O prédio foi demolido pelo governo do estado no início de maio. Um dia depois da estrutura ir abaixo, o g1 esteve no local e encontrou operários ainda trabalhando para organizar os destroços. Os telhados, tijolos, portas e janelas que antes faziam parte da estrutura do único museu de Roraima agora seriam descartados.
No relatório, o MPF menciona que o governo de Roraima não informou e nem soube identificar quem seria o responsável pela ordem de serviço para destruir a edificação. Também não há registro de anúncio prévio ou participação da sociedade na decisão de demolição do edifício.
Ao final da visita, o procurador da República Matheus de Andrade Bueno destacou que o MPF provocará os órgãos competentes para cumprirem seu papel constitucional de proteger o patrimônio cultural brasileiro. Realçou ainda a importância do envolvimento direto da sociedade nesse processo, de modo que será avaliado o acionamento de mecanismos de mobilização, escuta e participação sociais a respeito do tema.
Museu Integrado de Roraima
Imagens mostram processo de desmonte do prédio do Museu Integrado de Roraima
Arquivo Pessoal/Nikson Dias
A primeira sede do MIRR, um prédio de 750 metros quadros, estava localizada no interior do Parque Anauá. A edificação do museu foi desenhada pelo premiado arquiteto e urbanista cearense Otacilio Teixeira. Inicialmente, foi pensado como uma exposição temporária em homenagem aos 25 anos de criação do Território Federal de Roraima.
Após a sua inauguração, o museu passou a desenvolver trabalhos em diversas áreas do conhecimento, tais como botânica, zoologia, etnologia, arqueologia e história, com foco no estado de Roraima, além de buscar a formação de coleções científicas de referência.
Com o objetivo de suprir a lacuna deixada pela ausência de centros de pesquisa no estado, o Museu também buscou produzir artigos e documentos, com divulgação de sua produção científica por meio do Boletim do MIRR, além de material de apoio pedagógico e de difusão cultural, programas educativos e montagem de exposições itinerantes, de longa e de curta duração.
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