Corpos foram encontrados pela Polícia Federal em uma cratera com água próximo à comunidade Uxiu, na Terra Yanomami. Corpos estavam em cratera
Arquivo Pessoal
O Instituto Médico Legal (IML) iniciou nesta quinta-feira (4) o processo para identificação dos oito garimpeiros encontrados mortos na Terra Indígena Yanomami. Os cadáveres chegaram a Boa Vista na noite dessa quarta (3) após operação que envolveu agentes da Polícia Federal e militares do Corpo de Bombeiros.
Todos estão em avançado estado de decomposição e não há previsão para o término dos trabalhos de necrópsia, afirmou à Rede Amazônica a diretora do IML e perita odontolegista, Marcela Campelo.
“A identificação será pelo método científico, que, inicialmente, são as digitais. A gente vai ter essa tentativa de que essas digitais estejam preservadas, se não for possível, ai vamos para a arcada dentária”, explicou Marcela, acrescentando que se nenhum desses métodos funcionar, as identificações podem ocorrer por meio da coleta de DNA.
Após a identificação, o IML vai enviar os laudos com as causas da morte para a PF, responsável pela investigação das mortes.
Além desses oito, dos outro quatro garimpeiros mortos na Terra Yanomami em confronto com a PRF, dois já foram identificados e liberados para a família. Os demais seguem em processo de necrópsia.
Corpos chegaram no IML sob forte esquema de segurança
Caíque Rodrigues/g1 RR
Corpos em cratera
Os corpos dos oito garimpeiros foram encontrados em um sobrevoo da Polícia Federal na região da comunidade Uxiu, dentro do território Yanomami. Os cadáveres estavam dentro de uma cratera com água, tinham marcas de tiros e havia uma flecha no local.
Corpos foram encontrados próximo a comunidade Uxiu
Arquivo pessoal
Com a morte deles, a Terra Yanomami registrou 13 mortes e dois feridos a tiros em três dias – de sábado (29) a segunda-feira (1º).
A primeira morte foi a do indígena Ilson Xiriana, de 36 anos, que atuava como agente de saúde. Ele sofreu um tiro na cabeça durante um ataque, no último sábado (29). Garimpeiros armados a bordo de um barco abriram fogo contra a comunidade Uxiu, na região do rio Alto Mucajaí, uma das rotas usadas pelos criminosos no território. Outros dois indígenas foram baleados e estão internados em Boa Vista.
Depois, já no domingo (30), em outra região da Terra Yanomami, em Waikás, garimpeiros atiraram contra agentes da Polícia Rodoviária Federal e fiscais do Ibama que atuam na repressão a garimpeiros. Os agentes revidaram, houve confronto e quatro garimpeiros morreram – um deles, identificado como Sandro Moraes de Carvalho, de 36 anos, comandava uma facção que domina garimpos na região.
E, na segunda-feira (1º), foram encontrados os oito garimpeiros mortos. Investigares que atuam na apuração do que ocorreu suspeitam que as mortes tenham relação com o ataque aos indígenas da comunidade Uxiu.
A Associação Hutukara Yanomami já havia alertado para o risco de um revide na região após o ataque dos garimpeiros aos indígenas. Em um comunicado, assinado com Texoli Associação Ninam, as duas organizações disseram que poderia ocorrer “a qualquer momento mais uma tragédia naquela região”
“As lideranças indígenas da comunidade Uxiu informaram que se organizaram e estão preparados para atacar qualquer barco de garimpeiros que passarem próximos às comunidades às margens do Rio Mucajaí, isso significa que pode ocorrer a qualquer momento mais uma tragédia naquela região”.
Mapa mostra regiões de conflito na Terra Yanomami nas regiões de Uxiu e Waikás
arte g1
Reforço na segurança
Após o ataque aos indígenas e o confronto com os agentes federais, o governo federal anunciou reforço nas equipes que atuam contra garimpeiros na Terra Yanomami. No entanto, ainda não foi detalhado como e quando vai ocorrer o esse reforço.
Em nota, o Ministério da Defesa informou que haveria uma reunião na Casa Civil da Presidência da República para tratar sobre o tema, na tarde dessa quarta.
“O Ministério da Defesa e as Forças Armadas se mantêm de prontidão para o atendimento de novas demandas frente aos ataques contra indígenas em Território Yanomami”, completou o órgão.
O g1 também procurou os Ministérios da Justiça e Meio Ambiente para saber detalhes desse reforço na segurança, mas nenhum respondeu até a última atualização da reportagem.
A PRF, que atua em ações conjuntas com o Ibama e Força Nacional dentro do território contra os garimpeiros, disse em nota que “está em análise pela Polícia Rodoviária Federal, por meio da Diretoria de Operações, o reforço de policiamento para atuação na TI Yanomami”.
Atualmente, segundo a PRF, a corporação conta com 53 policiais no local, dentre táticos especializados em combate aos crimes ambientais, Choque, Operações Aéreas e Operações Especiais. A PRF também conta, no momento, com dois helicópteros dedicados ao apoio operacional.
A PF, também em nota, disse que “já há acréscimo do quantitativo do efetivo operando na região e que há programação para novos reforços, mas que não há detalhes relativos a este para ser repassado à imprensa, em especial por questões relacionadas à efetividade das ações e segurança dos envolvidos”.
‘Estado brasileiro não vai recuar’
Em coletiva à imprensa em Boa Vista na segunda-feira (1º), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva disse que o governo vai manter as ações contra os garimpeiros.
“O estado brasileiro não vai recuar face à criminalidade. As ações vão ser intensificadas. Vamos reforçar as equipes do Ibama, da PRF, da Polícia Federal, com as Forças Armadas, que é fundamental o suporte logístico, e toda parte operacional para que a gente possa dar uma respostas a altura”.
Maior território indígena do país, a Terra Yanomami enfrenta uma das piores crises sanitárias da história em três décadas de demarcação e está sob emergência em saúde desde janeiro, quando Lula (PT) assumiu a presidência do país. Devido ao avanço do garimpo ilegal na região – que aumentou 54% em um ano, crianças e adultos enfrentam casos severos de desnutrição e malária.
Além de Marina, estiveram em Roraima as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da Saúde, Nísia Trindade. Também integrou a comitiva o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, o secretário nacional de Segurança Pública, Francisco Tadeu de Alencar, o diretor para Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire, o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt, e o secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba.
IML inicia trabalho para identificação de oito garimpeiros mortos na Terra Yanomami
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