O que a neurociência diz sobre o impacto da leitura no cérebro?

A leitura, hábito frequentemente exaltado por educadores com o intuito de fomentar o gosto pela leitura em crianças e adolescentes, tem sido objeto de inúmeros estudos que investigam seus efeitos benéficos. O que será que a Ciência tem conseguido observar? A resposta é que a atividade da leitura, dentre os seus diversos efeitos positivos, é um dos melhores exercícios para o cérebro e o melhor para a formação e manutenção da memória. Para este artigo, selecionamos argumentos presentes em dois livros da Neurociência, A arte de esquecer: cérebro e memória, e Memória, escritos pelo renomado neurologista Ivan Antonio Izquierdo, que é um dos pesquisadores brasileiros mais citados no mundo.

A leitura é um exercício para o cérebro, semelhante à maneira como o exercício físico beneficia os músculos. Para que o cérebro se desenvolva e permaneça saudável, ele deve ser continuamente desafiado e estimulado. O oposto, o sedentarismo cerebral, não somente impede o seu desenvolvimento como também pode resultar em doenças. De acordo com Izquierdo, a leitura envolve uma gama diversificada de funções cerebrais que ativa simultaneamente memórias visuais, de linguagem e motoras. Por exemplo, ao ler o título deste artigo, você não percebeu, mas seu cérebro realizou uma varredura poderosa de todas as palavras que ele possui e o fez em uma velocidade impressionante. Agora pare e pense: em uma fração de segundos o seu cérebro fez uma varredura de todas as palavras que ele possui, e isso envolveu não apenas uma parte, mas todo o seu cérebro. Que exercício incrível! Atividades como resolver palavras cruzadas ou assistir a um filme sem mudar de canal também oferecem benefícios, mas nenhuma é tão poderosa quanto a leitura, pois apenas ela exige um alto nível de atividade cognitiva em tão pouco tempo.

Os benefícios da leitura vão além do ato de ler; eles também se estendem a quem escuta com atenção. Pense, por exemplo, em pessoas cegas ou crianças que ainda não foram alfabetizadas. Izquierdo destaca que essas pessoas também podem colher os bons frutos da leitura. Um exemplo nesse sentido é o do escritor argentino Jorge Luis Borges, que, ao perder gradualmente a visão, ficou totalmente cego aos 55 anos. Apesar dessa limitação, Borges manteve-se produtivo até o fim de sua vida, aos 86 anos, graças à leitura feita por outras pessoas, como sua mãe e seu assistente, o também escritor Alberto Manguel, à época adolescente. Esses leitores não apenas liam para Borges, mas também escreviam os textos que ele ditava em voz alta, demonstrando que os benefícios da leitura podem ser compartilhados de diversas maneiras, estimulando o cérebro e a criatividade tanto de quem lê quanto de quem escuta.

Por fim, é importante notar que a leitura pode, inclusive, prevenir doenças, como o Alzheimer. Porém, como pontua Izquierdo, em leitores assíduos, quando o Alzheimer acontece, o hábito da leitura costuma retardar o aparecimento da doença. Fica claro, então, que o exercício da leitura oferece benefícios a curto e a longo prazo, o que deve incentivar tanto aos pais quanto aos educadores, e a sociedade de um modo em geral a investir na criação e manutenção do hábito da leitura entre as crianças e aos adolescentes, sabendo que este é um dos melhores presentes que podem oferecer para os seus jovens cérebros – que vão iluminar os caminhos do nosso futuro!

Sobre o autor: Francisco Neto Pereira Pinto é professor, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de Língua e Literatura e graduado em Letras – Português / Inglês, leciona no programa de pós-graduação em Linguística e Literatura da Universidade Federal do Norte do Tocantins e nos cursos de Medicina e Direito do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos. Membro da Academia de Letras de Araguaína – Acalanto, publicou os livros: O gato Dom, Você vai ganhar um irmãozinho, Saudades do meu gato Dom e À beira do Araguaia. Siga o autor pelo Instagram: @francisconetopereirapinto

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