“Na guerra, a verdade é a primeira vítima.”
Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, denominou o conflito de “The Unnecessary War” – A Guerra Desnecessária –, pois acreditava que, com uma política mais firme e incisiva contra os derrotados de 1914, a possibilidade de um novo confronto poderia ter sido evitada. Da mesma forma, agora, o grave equívoco operacional e tático de Israel, que falhou em prevenir o ataque antes que ele ocorresse, resultou em um conflito em sua essência, desnecessário.
Porém, a organização terrorista Hamas também negligenciou uma lição crucial de Sun Tzu em seu livro A Arte da Guerra: “Pareça fraco quando você é forte, e forte quando você é fraco”. Israel aparentava vulnerabilidade devido ao intenso conflito social em torno da reforma judicial, que ameaçava retirar o poder e a independência de seu judiciário, dividindo o país como nunca antes. Certamente, isso os confundiu, levando-os a acreditar que havia uma grande oportunidade a ser explorada.
Um ano, três meses e quatro dias depois, Gaza foi devastada, sua população perdeu familiares, casas e bens, com 46 mil palestinos mortos – embora os números fornecidos pelo grupo terrorista devam ser submetidos a escrutínio. No entanto, considerando o que poderá ser encontrado sob os escombros, esse número pode chegar a 70 mil. São mais de 100 mil feridos, milhares de terroristas presos, líderes mortos e uma estrutura militar eliminada, além de armamentos e túneis destruídos. A guerra iniciada pelo Hamas transformou-se em um conflito de sete frentes: Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria, Iêmen, Iraque e Irã. Em todas elas, Israel prevaleceu militarmente e geopoliticamente. No Líbano, Israel exibiu parte de seu poderio ao neutralizar 4.500 combatentes por meio do Ataque dos Biperes – um dos mais engenhosos e meticulosamente planejados da história de conflitos militares. O líder da organização Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi eliminado, assim como seus primeiro e segundo escalões. Ao todo, aproximadamente 4 mil terroristas foram mortos, a capacidade armamentista estratégica foi neutralizada e mais de 15 mil ficaram feridos.
O Irã revelou-se um mestre do blefe, perdendo suas tentáculos no Líbano e na Síria, e demonstrando uma capacidade limitada de atingir Israel. Em contrapartida, Israel neutralizou suas baterias antiaéreas e destruiu a fábrica responsável pela produção de um componente-chave para mísseis de longa distância. Como se isso não bastasse, Israel eliminou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em solo iraniano. A mensagem para o líder supremo do Irã, Khomeini, é clara: você está no poder porque não é do interesse de Israel retirá-lo. Na Síria, o ditador Bashar Al-Assad fugiu para a Rússia, encerrando um regime brutal imposto por ele e sua família que perdurou por meio século. Os ativos de guerra estratégicos foram todos destruídos. Os ataques no Iêmen conduziram à formação de uma coalizão ocidental, alinhando os interesses da Arábia Saudita e do Egito com os de Israel.
Esta guerra oferece lições inestimáveis. A primeira e mais essencial é a importância de contar com os Estados Unidos como aliados. A segunda lição é que iniciar uma guerra é fácil, mas prever seu desfecho é extremamente difícil. Por fim, Israel possivelmente aprendeu com este conflito e fortalecerá ainda mais seu poderio militar. Do ponto de vista geopolítico, as chances de Israel e Arábia Saudita firmarem um acordo de paz, estendendo os Acordos de Abraão, são altíssimas, assegurando uma maior aproximação com os sunitas em todo o mundo. Aprendemos, ainda, a importância de um regime de freios e contrapesos. Tanto Putin quanto Sinwar iniciaram guerras que poderiam ter sido evitadas com mecanismos institucionais mais robustos. Embora tais mecanismos não tenham funcionado adequadamente nos casos da Guerra do Vietnã, Iraque e Afeganistão, é provável que o modelo democrático tenha evitado inúmeras outras guerras. O conflito também desvelou a profundidade do anti-semitismo que permeia o mundo, evidenciando como dois pesos e duas medidas são aplicados quando o assunto diz respeito aos judeus. Uma guerra, incontestavelmente mais devastadora, ocorreu no Sudão e na Ucrânia em paralelo; contudo, a obsessão com o Estado judaico resplandece nas primeiras páginas dos jornais com narrativas falsas. Combater essa ameaça deve ser prioridade.
Ademais, a lavagem cerebral promovida pelas universidades americanas e britânicas (entre tantas outras), através da doutrinação “woke”, está comprometendo o âmago de sua missão: educar e desenvolver a ciência. Se não enfrentarmos essa tendência, poderemos ver ameaçado o futuro do mundo livre, especialmente quando esses jovens adultos ascenderem ao poder.
Uma das próximas ações consiste em iniciar os preparativos para a guerra contra o Irã, cujo foco será a destruição de seu programa nuclear. A mera ameaça iminente de conflito pode ser eficaz para evitá-lo, tal como nos ensinou Donald Trump ao ameaçar o Hamas, resultando na rápida conclusão de uma negociação que perdurou por mais de 400 dias.
É imperativo que aprendamos com as lições da história. A Guerra dos Seis Dias precipitou a Guerra de Yom Kipur, assim como a Primeira Guerra Mundial pavimentou o caminho para a Segunda. Contudo, a paz estabelecida com o Egito após o conflito e a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos trouxeram décadas de prosperidade e tranquilidade – ainda que com alguns soluços. A diplomacia, os acordos, sua execução e monitoramento, bem como a criação de instituições sólidas, são fundamentais para colher os frutos deste horrível conflito. Gaza deve decidir se deseja ser reconstruída para se tornar a Singapura do Oriente Médio, uma oportunidade que poucos locais no mundo têm, ou se prefere se submeter a mais uma rodada de batalhas, como tantas outras. É essencial que, tal como a Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, o foco seja na reeducação do povo, para valorizar a vida e baixar as armas.
Benjamin Netanyahu deve renunciar, ser destituído por meio de eleições ou pelo supremo tribunal, pois é o principal responsável pelo envolvimento de Israel nesta guerra. Seu sucessor deverá, com determinação, unir este pequeno país, restaurar o Estado de Direito, combater a corrupção, integrar os líderes religiosos nas forças armadas e enfrentar os extremistas fundamentalistas que comprometem a posição moral de Israel, tanto em seu interior quanto perante o mundo. Por fim, é preciso também aprender a valorizar sua população árabe. E acima de tudo, o povo de Israel, assim como o restante do planeta, deve aprender o preço do populismo. Este cessar-fogo, embora símbolo de esperança, é tão frágil quanto uma fagulha que, com o gesto de um fundamentalista insano de qualquer lado, pode reacender as chamas do conflito no Oriente Médio. Contudo, cabe a Israel, com determinação inabalável, sanar feridas profundas, secar lágrimas amargas e resgatar-se como a nação pioneira que impulsiona o mundo com suas inovações tecnológicas. Agora é o momento de travar a nobre batalha diplomática por um país resplandecente e próspero, renovando seu compromisso com a paz e a prosperidade das futuras gerações.
Daniel R. Schnaider é ex-membro da 8200, Unidade de Inteligência de Elite do Exército de Israel, e apresenta, semanalmente, sua coluna no IG, Último Segundo, onde aborda soluções nas áreas militares, de tecnologia, economia e geopolítica, sempre desafiando o status quo.